Inclusão Social - O Papel Dos Jogos Digitais No Tratamento À Depressão.
- LRVStudios
- 16 de fev. de 2021
- 19 min de leitura
Olá pessoal, tudo bem? Hoje venho dar continuidade a um dos três grandes tópicos mencionados na última postagem: A Depressão. Antes de começar, devo deixar bem claro que esse texto tem caráter informativo - é imprescindível o contato com um profissional capacitado da área de saúde para a orientação devida do(s) tratamento(s) que deve(m) ser aplicado(s).
Assim como mencionei no último post (veja aqui), os jogos digitais podem ser usados como uma forma de terapia alternativa que, em conjunto com tratamentos orientados por profissionais da área da saúde, podem trazer resultados positivos significativos.
Hoje abordaremos a Depressão com um aprofundamento maior, onde pretendo apontar alguns tipos e sintomas - com o intuito de identificação pelo portador da doença, ou até mesmo de alguém próximo que esteja enfrentando essa barra.
Tenham uma ótima leitura! 😃
O que é Depressão?
A Depressão é uma doença crônica* comum no mundo todo, chegando a afetar mais de 300 milhões de pessoas (OPAS). Existem diversos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da doença - o que torna o diagnóstico extremamente complexo.
A complexidade da doença se estende à uma combinação de fatores sociais, psicológicos e biológicos; além de se manifestar de maneiras diferentes para cada paciente e ser considerada uma das doenças mais incapacitantes pela OMS.
Muitas vezes, a doença é presente, mas imperceptível ao olhar comum - até mesmo da própria pessoa portadora.
Sendo assim, mais uma vez, fica aqui minha ressalva de que é imprescindível o contato com profissionais capacitados da área da saúde - psicólogos, terapeutas, psicoterapeutas e afins.
Mas antes de falar sobre alguns dos sintomas mais presentes, existe ainda uma barreira que dificulta ainda mais o tratamento. Lembra da primeira postagem que fiz aqui no blog (ver post), onde falo sobre Estigmas Sociais? Caso não tenha lido, vai aqui um trecho:
"(...) Um Estigma Social pode ser visto como uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais, que frequentemente levam à marginalização social(...)".
Os Transtornos Mentais, assim como a Depressão, ainda carregam estigmas que dificultam - quando não impossibilitam - a busca por tratamento. Algumas vezes, a pessoa pode até saber que precisa de ajuda, mas a família não reconhece a doença com a gravidade devida, podendo surgir frases como: "Isso é frescura", "Você pode conversar com qualquer um de nós, não preciso pagar alguém para isso", entre outras.
Sabendo que a Depressão é uma doença crônica*, de difícil reconhecimento, alta complexidade no diagnóstico e, ainda, carregando estigmas sociais que dificultam a busca por tratamento...como saber o que é Depressão? Para ajudar no reconhecimento da doença, com caráter informativo, vai aqui uma lista dos sintomas mais comuns:
Tristeza permanente
Anedonia (incapacidade de sentir prazer ou satisfação)
Ideias suicidas
Alterações cognitivas
Alterações no sono
Dificuldade de concentração
Insegurança, sensação de fadiga
Perda de energia
Dor física e lentidão ou agitação.
Os sintomas listados acima são os mais comuns encontrados em portadores da doença, mas estão longe de serem os únicos. A manifestação dos sintomas acontece de forma variada para cada um, e deve ser analisada por um profissional capacitado da área da saúde, afim de obter maiores esclarecimentos sobre os possíveis tratamentos.
Sendo assim, podemos dizer que caso alguém próximo - ou até mesmo você - apresente mais de um dos sintomas de forma recorrente, fique atento! Embora não signifique que a pessoa apresente a doença de fato, é sempre importante observar com cuidado aqueles que amamos.
E caso você esteja lendo a palavra "Doença" e seja da área de psicologia, não fique irritado. Existe uma discussão sobre a classificação do TDM (Transtorno Depressivo Maior) como um transtorno, distúrbio ou doença, mas a ideia aqui é informar sobre a gravidade do quadro depressivo. Por ser um combinação de fatores que geram os sintomas depressivos, a Depressão é considerada um distúrbio - e não uma doença - por muitos pesquisadores da área.
Doença é a condição de um corpo quando uma de suas partes não apresenta o funcionamento normal e, consequentemente, é manifestada por sintomas físicos. É quando um órgão ou um componente do seu corpo apresenta um problema que pode ser identificado através de uma tomografia, de um Raio-X ou de exames de laboratório, por exemplo.
Mas o cérebro não é parte do corpo também? Sim, ele é. Contudo a depressão é um conjunto de sintomas que se relacionam. O seu corpo inteiro é afetado e responde negativamente a isso. Você não tem um órgão isolado que apresenta um problema. Por esse motivo, para Carlos Lopes e outros especialistas, o correto seria referir-se ao Transtorno Depressivo Maior como distúrbio.
O que é preciso considerar aqui também é que, ao não tratar esse distúrbio, o paciente pode sim desencadear doenças como problemas cardíacos, hipertensão arterial, diabetes, etc.
* Doenças Crônicas são aquelas de progressão lenta e longa duração, que muitas vezes levamos por toda a vida. Podem ser silenciosas ou sintomáticas, comprometendo a qualidade de vida. Nos dois casos, representam risco para o paciente (Link).
Cinco dos Sintomas Mais Comuns
Sabemos que a Depressão é um distúrbio, de difícil percepção (Invisível) e diagnóstico complexo, que se manifesta de forma variada em cada indivíduo; podendo ser causado por fatores sociais, biológicos ou psicológicos. Pois bem...chegou a hora de listar algumas características sobre alguns dos sintomas que podem estar presentes em pessoas que apresentem TDM (Transtorno Depressivo Maior).
Humor Deprimido
Uma sensação de tristeza sem motivo aparente, a falta de esperança e falta de desejo para iniciar projetos presentes e/ou futuros ou até uma sensação inexplicável de "vazio", que há sempre algo faltando, são algumas das características encontradas em pessoas deprimidas.
É comum ficarmos deprimidos em algumas ocasiões, mas os motivos normalmente são claros. Podemos sentir tristeza a qualquer momento, e por basicamente qualquer motivo; mas quando não sabemos o por quê estamos tristes, devemos procurar ajuda.
No começo de um "episódio" depressivo, existe uma grande chance do indivíduo ainda ter forças de se comunicar e explicar aos amigos e família, de forma que possam buscar o tratamento adequado com o auxílio de profissionais capacitados.
Caso não se procure ajuda ou ela não chegue, sem o tratamento devido, o transtorno pode evoluir de forma que sejam apresentados sintomas físicos, como falta de apetite, problemas cardíacos, diabetes, entre outros.
Perda ou Ganho significativo de peso
Um dos sintomas mais comuns entre as pessoas que apresentam Depressão é a falta de apetite - ou melhor, o desequilíbrio alimentar abrupto. É importante entender a diferença entre distúrbios alimentares e a depressão maior. Na anorexia - um distúrbio alimentar - o paciente tem apetite, mas recusa a comer. Na depressão, o paciente perde o apetite ou come demais por razões muitas vezes inexplicáveis.
Novamente, é comum não termos apetite quando estamos muito tristes. O problema é quando isso é recorrente. Pessoas que apresentam Depressão, por sentirem-se tristes o tempo todo, tendem a mudar drasticamente seus hábitos alimentares.
É importante notar e perceber essas diferenças abruptas nos hábitos alimentares, pois elas são um forte indício de que algo não está bem. Caso uma pessoa que se alimente normalmente bem, passe a oscilar seus padrões alimentares durante semanas, fique atento! E isso vale não só para a falta de apetite, como para com o excesso também.
Falta de Energia
Às vezes, sentimos uma enorme preguiça e a única coisa que pensamos é sentar no sofá e assistir um filme, jogar um videogame ou cochilar. Agora imagine que você está deprimido com alguma coisa bem chata que te aconteceu, e é domingo. Provavelmente sua vontade será de ficar de pijama o dia inteiro, não tomar banho ou se arrumar...ou fazer qualquer coisa que não seja comer e dormir. Tá tudo bem se sentir assim.
Outras vezes, estamos com dor - emocional ou física - tamanha que não conseguimos nem nos levantar e precisamos ficar em repouso durante alguns dias. Isso é normal também e tende a passar. Mas e se não passar?
A Depressão Maior é um misto de todos esses sentimentos, que geram uma carga tão densa que o indivíduo não tem vontade alguma de fazer qualquer coisa - mesmo tarefas que eram simples e anteriormente agradáveis. Levantar da cama, fazer um café ou tomar um banho tornam-se tarefas impossíveis, que desprendem uma energia gigantesca para quem tem Depressão.
Essa falta de energia tente a ficar mais evidente ao longo do tempo, com a evolução do transtorno caso não haja auxílio amparado por profissionais capacitados da área, assim como familiares e amigos. É importante ficarmos atentos à essa falta de motivação constante em viver, para que possamos identificar o distúrbio e tratá-lo da melhor maneira possível.
Agitação ou Retardo Motor
A agitação ou retardo motor são indícios bem sutis e difíceis de serem identificados quando o distúrbio depressivo ainda é leve. Mas devido às mudanças alimentares que acompanham o distúrbio, a longo prazo, é bem possível que o indivíduo apresente queda significativa de nutrientes pela má alimentação.
Isso pode afetar a maneira como o indivíduo pensa, tornando-o mais suscetível à falhas cognitivas - como perda de concentração, inquietude constante, ou até a divagação e alienação completa, como se a pessoa estivesse dentro de sua própria mente, sem poder diferenciar o mundo real de sua imaginação.
Esse último exemplo já esbarra em outros transtornos mentais que não abordarei aqui, e já é mais raro de acontecer em pacientes que apresentam TDM. Mas essa inquietude constante e a perda de concentração são mais frequentes e podem ser observadas mais evidentemente em crianças e adolescentes.
Ficar andando de um lado para o outro, diversas vezes ao dia; falar muito rápido ou demasiadamente devagar; ou até não ter nenhuma paciência em completar tarefas simples como cozinhar ou lavar roupas podem ser alguns indícios que a pessoa apresente TDM. Contudo, os mesmos podem ser confundidos com sintomas de Ansiedade.
Vale lembrar mais uma vez que este texto tem intuito informativo. Para saber se você ou alguém próximo tem TDM ou qualquer outro distúrbio / doença / transtorno mental, é imprescindível o contato com um profissional capacitado da área de saúde a fim de obter um diagnóstico plausível.
Inutilidade Constante
Mais um sintoma que, se analisado separadamente, não pode ser conclusivo para falar que alguém tem depressão. É normal sentir-se inútil às vezes, em determinada tarefa, em algum momento de nossas vidas. Eu mesmo, sendo desenvolvedor de jogos, me sinto assim várias vezes ao dia - principalmente quando meu código não funciona e fico algumas horas tentando desvendar o problema.
Acontece que, mesmo assim, continuamos tentando. A capacidade de continuar e insistir até acertarmos é um privilégio que nem todos temos - para as pessoas com TDM (Depressão), esse sentimento de inutilidade é constante e normalmente está atrelado à qualquer tarefa, por mais simples que possa parecer.
É como se o indivíduo não soubesse fazer nada direito, e se culpasse constantemente por isso. Para quem vê de fora, pode parecer "vitimismo"...mas esse sentimento de incapacidade vem normalmente de uma combinação de todos os outros, sendo realmente impossível para o indivíduo sua própria visualização na realização e conclusão de atividades.
Imagine que, antes de começar a fazer qualquer coisa na sua vida, você saiba bem lá no fundo que não vai conseguir. E não precisa ser algo grandioso, pode ser "sair da cama", "fazer um café", "falar com alguém" ou qualquer outra coisa.
Agora imagine que você já se sinta inseguro com todos os aspectos da sua vida, e alguém lhe pede para fazer uma tarefa relativamente simples. Além de não conseguir por se sentir incapaz, sente-se culpado por sua incapacidade. Tá dando para visualizar? Um misto de vários sentimentos emaranhados que, literalmente, incapacitam o indivíduo; daí vem esse sentimento de incapacidade e culpa constante.
É importante percebermos quando alguém só pensa em seus problemas, suas incertezas, dores e infelicidades. Caso sejam sentimentos recorrentes, que perdurem durante alguns dias, devemos acompanhar a pessoa e instruí-la a procurar auxílio médico para dar sequência a um tratamento direcionado - como vimos anteriormente, a manifestação do TDM se apresenta de formas diferentes para cada indivíduo.
Buscando Uma Saída
O primeiro e mais importante passo é o reconhecimento. Conhecer um pouco mais sobre o TDM e reconhecer o distúrbio em si é crucial para a recuperação do indivíduo. A partir do momento que se identificam alguns dos sintomas da Depressão, é hora de procurar ajuda profissional.
É importante ressaltar que, com o intuito de obter a maior eficácia possível nos tratamentos orientados pelos profissionais, o paciente, seus familiares e amigos próximos precisam participar ativamente do processo. Dito isso, mencionarei alguns tratamentos, medicamentos e outras dicas recomendadas por especialistas.
Mais uma vez, devo enfatizar que apesar da eficácia do tratamento estar atrelada à uma combinação de fatores - normalmente ligados ao relacionamento interpessoal do indivíiduo para com seus familiares e amigos - nada substitui o acompanhamento de um profissional capacitado.
Além disso, devemos considerar que até o momento mencionamos fatores "externos"; contudo, existem também fatores biológicos. Em um artigo escrito por: "Lafer, Beny e P. V. Filho, Homero", mostra alguns estudos sobre a possibilidade de existência de um componente genético para a depressão.
Estima-se que este componente genético represente cerca de 40% da susceptibilidade para desenvolver depressão unipolar e 70% para o transtorno bipolar.
O modo de transmissão genética permanece não definido, embora as análises de segregação já sugiram que a depressão é provavelmente multifatorial.
Os estudos de genética molecular não conseguiram ainda identificar um lócus gênico específico para a depressão, possivelmente por se tratar de uma enfermidade com heterogeneidade etiológica.
Uso de Medicamentos
Como qualquer outro fármaco, os medicamentos utilizados no tratamento da Depressão comumente trazem efeitos colaterais. Mais um motivo para buscar tratamento adequado com um especialista e jamais se automedicar. É importante saber também que, na maioria dos casos onde existe evidência do distúrbio, é possível que o tratamento seja feito sem o uso de medicamentos.
Não listarei os mesmos aqui pois devem ser prescritos por um profissional capacitado. A ideia aqui é informar que existe essa possibilidade e que, em conjunto com um tratamento adequado, orientado e acompanhado por um profissional da saúde mental, pode trazer benefícios e resultados significativos.
Psicoterapia
Existem vários tipos de psicoterapia - Freudiana, Junguiana, Lacaniana , entre outras - mas vou generalizar e abranger o tema como um todo, pois todos os seus tipos tem propósitos similares. Basicamente, a psicoterapia busca curar os transtornos psicológicos a fim de reestabelecer a saúde mental do paciente.
Os tipos de psicoterapia estão ligados às técnicas e formas de abordagem utilizadas pelos profissionais, mas o propósito é o mesmo. Como a Depressão se manifesta de forma diferente para cada um, é complicado saber com qual tipo de abordagem o paciente se identificará mais. Por esse motivo, é importante não se prender à abordagem em si, mas focar no tratamento.
Com o tempo e o autoconhecimento gerado pela terapia, será possível tomar decisões mais pertinentes à condição atual do indivíduo. Antes da busca por tratamento, dependendo do nível do distúrbio, é bem provável que nenhuma decisão tomada pelo indivíduo seja benéfica; isso porque sua mente está trabalhando contra si mesmo.
Sendo assim, minha dica é que nesse início, quando se percebe a doença e deseja buscar tratamento, comece com o que tiver em mãos. Primeiro peça ajuda à família, depois busque um tratamento sem restrições às técnicas e abordagens utilizadas pelo profissional. Como eu disse, todos os tipos de psicoterapia visam "(...) reestabelecer a saúde mental do paciente".
O mais importante é não sair por aí fazendo qualquer tipo de tratamento sem o acompanhamento de um profissional capacitado, muito menos se automedicar. Caso não saiba onde encontrar ajuda, tente conversar com alguém próximo. provavelmente algum de seus familiares e/ou amigos já tiveram que enfrentar essa barra.
Estilo de Vida
É comum associar pacientes depressivos à hábitos negativos no cotidiano - como se alimentar mal, dormir muito ou quase não dormir, o uso abusivo de substâncias depressivas (como álcool e outras drogas). Isso acontece devido ao próprio estado do indivíduo, que muitas vezes não encontra uma saída para seu quadro.
O importante é começar com pequenos passos. Manter-se ocupado com atividades simples e benéficas do cotidiano, como higiene pessoal, tentativas de se alimentar melhor e atividades físicas levas - principalmente aeróbicas, pois liberam uma quantidade maior de hormônios "da felicidade", como serotonina.
Com o tempo, o condicionamento do corpo começa a trabalhar a favor do indivíduo, promovendo um processo biológico de "recuperação" - além do psicológico e social, que tem de caminhar lado a lado.
Aqui vai uma lista de possíveis mudanças nos hábitos que podem gerar resultados positivos no tratamento de distúrbios mentais:
O primeiro passo de fato é o Conhecimento. Caso tenha lido o texto até aqui, já pode ter um boa base para identificar o transtorno em si ou até em alguém próximo que possa estar enfrentando a doença. Aprenda tudo o que puder sobre TDM, a fim de poder reconhecer o distúrbio mais facilmente e procurar ajuda profissional.
Tome Nota! No início do tratamento, é muito importante que o paciente comece a identificar seus sentimentos, reações e qualquer observação pertinente. Você pode adotar a ideia de ter um diário, e começar a anotar o que faz, como faz, o que come...e por aí vai. A partir do momento que você começa a reconhecer o seu processo e estilo de vida, pode começar a moldá-lo a seu favor.
Evite o consumo de substâncias depressivas, como drogas em geral. O abuso de tais substâncias podem prejudicar o tratamento, ainda mais se aliado aos medicamentos terapêuticos orientados. Todo medicamento é uma "Droga", assim como toda droga é um "Medicamento". Como disse anteriormente, nenhuma pessoa deve se automedicar!
Seja mais Ativo! A inclusão de atividades físicas leves na rotina do paciente é importantíssima para promover uma melhora significativa no tratamento. Trabalhando o corpo e a mente em conjunto, com o auxílio de profissionais capacitados, familiares e amigos, tenho certeza que qualquer pessoa pode vencer essa luta!
Vá Além do consultório! Muitas pessoas, quando começam a fazer terapia, acreditam que o profissional resolverá todos os seus problemas e, em pouco tempo, o paciente estará curado. Isso é um equívoco gigantesco! Como venho comentando durante esse post, para que o tratamento ao TDM seja eficaz, é preciso considerar uma série de fatores - e é esse conjunto de ações que o paciente toma, com o auxílio e orientação do profissional, que traz resultados positivos e significativos no tratamento; e não um fator isolado.
E o Papel dos Jogos Digitais nisso tudo?
Para demonstrar da melhor forma possível, precisamos destrinchar os conceitos que vimos até então sobre TDM. O primeiro passo seria procurar saber o máximo de informação possível sobre o distúrbio, de tal forma que fique cada vez mais fácil identificá-lo precocemente em nós mesmos ou nas pessoas do nosso convívio social.
Sendo assim, vocês já devem estar imaginando a quantidade monstruosa de pessoas que usufruem dos jogos digitais mundo afora, e associando ao nível de informação que pode ser levado à essa quantidade exorbitante de pessoas. Mesmo que não tenha passado isso pela sua cabeça, vem comigo que explicarei melhor.
Conhecimento sobre o distúrbio
(...) Já a Pesquisa Game Pop do Ibope, realizada em 2012, aponta que dos 80 milhões de internautas no país, 61 milhões jogam algum tipo de jogo. Desses jogadores, 67% utilizam consoles, e 42% computadores pessoais, especialmente para os jogos online.
Os jogadores online gastam mais tempo que os que utilizam console: em média 5h14 min por dia, contra 3h22 min dos que jogam por meio de consoles de mesa e portáteis. Além disso, somente no mês de Julho de 2012, 25,7 milhões de pessoas visitaram sites de Jogos Digitais.
O trecho acima aponta dados apenas no Brasil, mas ao todo são quase 2,5 bi de jogadores dispersados entre os seis continentes da terra - do total de aproximadamente 7,8 bilhões de habitantes. É uma proporção enorme. Mesmo que os jogos digitais ainda não sejam acessíveis a todos - para quem não leu ainda, vale a pena conferir minhas postagens sobre acessibilidade (ver aqui) - ainda podemos ver que o acesso aos jogos digitais alcança grande parte da população.
Sendo assim, pela enorme quantidade de usuários espalhados pelo mundo, o acesso à informação passada pelos desenvolvedores através dos jogos digitais pode agregar temas importantes à nossa sociedade, como já foi abordado na postagem anterior (ver aqui), onde menciono jogos como "Celeste", "Rainy Day" e "Gris", que tratam sobre "Depressão" e "Superação" de forma impecável.
O meio de comunicação é irrelevante quando o intuito é a transmissão da mesma - mas quando queremos alcançar uma maior quantidade de pessoas, podemos aproveitar os jogos digitais para transmitir a mensagem - e assim como os jogos mencionados anteriormente, a mensagem pode ser uma explicação sobre o que é a Depressão.
Deixarei aqui um relato da designer brasileira Thais Weiller - comento mais sobre seu jogo, Rainny Day, no post anterior a esse (ver aqui) - onde podemos ter uma visão sobre como nós, desenvolvedores independentes, podemos fazer a diferença e ajudar as pessoas - ou sermos ajudados pelos mesmos.
“A ideia começou como uma simulação de mim mesma, de como me sentia em relação a levantar e fazer coisas que precisava. Eu falava sobre isso com meu parceiro e ele não parecia entender. Inicialmente, era um jogo sobre como eu me sentia e quando começou a tomar forma, percebi que girava em torno de uma apatia pela vida”
“Comecei a prestar extra atenção no que meus amigos falavam a respeito da própria apatia deles. Muitos dos pequenos detalhes vieram dessa maneira, embora a maioria nem saiba disso. Então, começou como uma experiência extremamente pessoal e se tornou um sincretismo de várias experiências que fui coletando”
“Eu acredito que jogos são experiências extremamente únicas, pessoais e não pessoais ao mesmo tempo. Nos últimos anos, desenvolvedores independentes passaram a viver da criação de experiências pessoais, feitas de forma pequena e íntima para serem apreciadas da mesma maneira”.
“Dessa forma, acho que jogos são uma ferramenta incrível na conscientização sobre estados mentais. Muitos dos jogadores de Rainy Day vieram me dizer o quanto eles se reconheceram no jogo e procuraram ajuda por isso. Não fazemos diagnósticos, mas cooperamos para que se vejam em terceira pessoa e perceber que talvez elas precisassem de ajuda. Já outras disseram que viam amigos ou entes queridos que relatavam situações semelhantes e o jogo os ajudaram a entender o que estavam passando. Também é legal poder apoiar pessoas que não sofrem de uma condição a ter um pequeno vislumbre de como é conviver com ela”.
Ainda existem poucos exemplos se comparado à indústria como um todo, mas temas mais profundos vem ganhando peso com o passar dos anos, assim como o olhar atendo dos especialistas. O papel dos jogos digitais no auxílio ao combate à Depressão vai além da informação - visto que já é um passo importante e crucial para o reconhecimento do distúrbio.
Atividade Cerebral
A realização de tarefas mentais possibilita uma concentração maior, permitindo aos portadores de TDM permitindo um "escape" relativamente saudável da realidade. É comum perceber nas pessoas que apresentam o distúrbio uma divagação maior, falta de foco e até alienação quase que completa da realidade.
Os jogo digitais, por serem interativos - o jogador precisa tomar a ação de apertar os botões, caso contrário o jogo não progride - permitem que a pessoa se concentre na realização de ações, com objetivos e metas. Isso possibilita que o indivíduo esqueça um pouco seus sentimentos depressivos, suas dores e frustrações, de modo que se concentre apenas na jogatina.
Além disso, à medida que o jogador progride no jogo, normalmente são oferecidos "prêmios" que geram um sentimento de realização momentâneo. Isso pode gerar um sentimento de felicidade que ajuda no tratamento pois dá aquele "empurrãozinho" na busca por hábitos mais saudáveis na rotina.
Vale lembrar que não é desculpa para jogar por diversas horas ininterruptas. A chave é sempre o equilíbrio, de forma que com o tempo sejam internalizados hábitos saudáveis. a coordenação motora, a concentração cognitiva e, é claro, a diversão proposta pelos jogos digitais podem ajudar o paciente a ter resultados mais significativos com os tratamentos, medicamentos e outras atividades orientadas pelo profissional capacitado.
(...) Uma das conclusões da pesquisa é de que jogos eletrônicos exigem atenção do usuário para a obtenção de êxito nas diferentes tarefas que as obras propõem. Logo, este processo de imersão acaba por poupar o jogador de frustrações, medos e/ou preocupações que poderiam estar pairando por sua cabeça. É essa mudança de foco que alivia as chances de danos ao nosso ecossistema emocional, sendo uma excelente ferramenta para o combate da depressão.
(...) Segundo o site MdeMulher, a Universidade da Carolina do Leste chegou à conclusão de que pessoas que ocasionalmente jogam videogame reduziram metade dos problemas relacionados a depressão e ansiedade. Um dos principais motivos elencados para este resultado é que, enquanto se joga, ocorre o incentivo a resolução de problemas, isso porque os jogos eletrônicos estimulam a reflexão por meio dos desafios; auxiliam na superação de traumas ante as histórias contadas, além de contribuírem para a diminuição da agressividade, já que muitas das frustrações são descarregadas em inimigos virtuais.
(...) Não apenas os dois estudos aqui citados, mas também tantos outros concluem que, por exemplo, jogar jogos do gênero RPG (conhecidos pelo grande número de personagens com os quais você se relaciona, e consequentemente a vastidão de diálogos que dispõem) fomenta o trato com as pessoas e a criação de vínculos. Jogos para múltiplos jogadores online (os chamados "MMOS"), também são certeiros nesse sentido. No último caso, o contato é diretamente com outras pessoas reais, não sendo restrito aos personagens virtuais.
Ainda extraído do mesmo texto, o colunista Iuri Patias faz uma ressalva:
Os jogos eletrônicos, comprovadamente, auxiliam no combate a depressão, mas isso não é justificativa para que ninguém passe o dia inteiro frente a uma telinha, tão pouco que se utilizem de conclusões científicas para justificarem os seus vícios.
Além disso, estudos mostram uma melhora significativa em pacientes que apresentam o distúrbio de forma secundária, sendo gerado o TDM através se uma doença ou trauma físico manifestado anteriormente. É o caso, por exemplo, de pacientes em diálise. Aqui vão alguns trecho do estudo "Uso de jogo digital terapêutico em idosos em tratamento dialítico: aspectos cognitivos e sintomas depressivos" (Scielo.br)
(...) A presença de sintomas depressivos pode representar um impacto na qualidade de vida dos pacientes em diálise, assim como comprometer a aderência à terapêutica, motivação e déficit cognitivo. A literatura aponta a relação entre os sintomas depressivos e o comprometimento cognitivo.
(...) Diante deste contexto, torna-se necessária a abordagem de novos recursos para melhorar a qualidade de vida dos idoso em tratamento hemodialítico. Desta forma, este estudo objetivou avaliar a presença de sintomas depressivos e alterações cognitivas antes e após um programa de intervenção com um jogo digital terapêutico em idosos em hemodiálise.
(...) Para intervenção foi utilizado o jogo terapêutico intitulado Jogar também faz bem!, desenvolvido pelo Laboratório de Interação Flexível e Sustentável do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos em parceria com profissionais da área da saúde e pacientes do Hospital Espírita de Marília, com o objetivo de auxílio no tratamento de sintomas depressivos e estimulação cognitiva20,21.
(...) Com relação ao rastreio de sintomas depressivos, constatou-se que 30,7% dos idosos apresentaram sintomas depressivos leves ou severos. Na comparação entre os resultados alcançados pela GDS-15, observou-se redução na pontuação média no pós-intervenção em comparação ao pré-intervenção, com diferença estatisticamente significante. Pesquisa conduzida com 140 idosos apresentou como resultado que idosos que utilizam jogos digitais, mesmo que ocasionalmente, têm melhor atuação psicológica do que os idosos que não o fazem, refletindo assim, em um envelhecimento bem-sucedido.
Conclusão
Antes de mais nada, gostaria de agradecer quem leu até aqui. Sei que o texto ficou grande, mas realmente tem muito a se falar sobre o assunto. Caso seja um profissional da área da saúde mental e esteja lendo isso, deixa aqui nos comentários algum artigo relevante ao tema. Acredito que juntos somos mais fortes e podemos nos ajudar rumo à uma sociedade mais inclusiva.
Caso tenha gostado do texto, achado interessante e/ou esse conteúdo tenha tido alguma relevância para você, não esqueça de compartilhar para que mais pessoas tenham acesso à essa informação.
Lembrando que o caráter dessa postagem é de cunho informativo, para que possamos quebrar certos Estigmas Sociais e passar a informação adiante. Deixarei abaixo, como de costume, as referências de todos os artigos e texto utilizados para a construção deste. Dito isso, deixarei aqui uma lista de fatos importantes que menciono nesse post - caso você tenha tido preguiça de ler até o final 😆.
Resumo
Todo diagnóstico deverá ser orientado por um profissional capacitado da área da saúde.
A depressão é um conjunto de fatores sociais, biológicos e psicológicos que afetam o indivíduo, sendo classificada por alguns especialistas como "distúrbio", podendo afetar fisicamente a pessoa se não for devidamente tratada.
O diagnóstico do TDM (Transtorno Depressivo Maior) é complexo, pois a depressão se manifesta de forma diferente em cada paciente.
A relação interpessoal do paciente para com seus familiares, amigos (animais de estimação também contam!) e profissionais (psicólogos, psicoterapeutas e afins) é importantíssima para a obtenção de resultados positivos significativos durante o tratamento.
Assim como os sintomas apresentados e o conjunto de fatores que podem gerar o TDM são muitos, o tratamento também é um processo que leva tempo e engloba um conjunto de ações realizadas pelo profissional, paciente, familiares e pessoas próximas no geral.
Esperar que o profissional especializado seja o único responsável pela melhora do paciente é um equívoco enorme. Durante o tratamento, existe uma série de fatores que influenciam na superação da doença.
Assim como os transtornos mentais, os jogos digitais também carregam Estigmas Sociais que precisamos quebrar. Existem estudos que mostram uma melhora significativa durante o tratamento de doenças e distúrbios mentais em pacientes que usufruem dos jogos digitais.
Caso você que esteja lendo esse texto se identifique com alguns dos sintomas listados, ou ainda perceba esses sintomas em alguém próximo a você, procure conversar sobre isso com alguém que confie, seja sua família ou amigos e procure ajuda de um profissional. Você não está sozinho nessa!
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