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Empoderamento Feminino Parte I - Generocídio Histórico e Patriarcalismo.

  • Foto do escritor: LRVStudios
    LRVStudios
  • 2 de mar. de 2021
  • 11 min de leitura


Olá pessoal, tudo bem? Sejam bem vindos(as) ao blog e, para o tema da postagem de hoje, decidi separar em mais postagens para facilitar a leitura de vocês - então, fiquem atentos(as) às próximas postagens para analisarem o assunto como um todo. Farei o possível para não estender muito - embora sejam temas bem extensos e eu recomendo a leitura das referências que deixarei no final do post, caso queiram se aprofundar.


Dito isso, provavelmente nessa postagem eu não venha tratar sobre os jogos digitais; primeiro, porque gostaria de apresentar uma base de raciocínio para, somente então, incluirmos os "games" na "jogada". Segundo, porque à medida que os assuntos tratados aqui - como _acessibilidade e _inclusão-social - são tratados aqui, o intuito é promover um pensamento crítico de forma que possamos ter uma sociedade mais inclusiva. Ou seja, se você está aqui por gostar de jogos, fique tranquilo. Em breve tudo fará sentido. 😀


Semana passada tivemos uma perda enorme. Uma filha, jogadora, mulher...uma vida que perdemos. Em respeito aos familiares e à lacuna de tempo em que aconteceu o caso, não comentarei especificamente sobre isso. Por hoje, vamos dar início à série sobre "Empoderamento Feminino", que compõe a terceira categoria do blog até então.


Temas como generocídio - mais especificamente "Violência contra a mulher" - suas influências históricas, assim como patriarcalismo e a posição da igreja e ciência, serão abordados de forma geral. Portanto, para discorrer sobre a inclusão da mulher nos jogos digitais, antes faz-se necessário o entendimento histórico e cultural que compõe (ainda) nossa sociedade atual para que, a partir desse conhecimento, possamos trabalhar ações benéficas que auxiliem essa luta contra a violência de gênero e principalmente contra a mulher.


Então vamos lá, lembrando que caso você esteja gostando do meu trabalho, não esqueça de dar um olhada nos outros links da LRVStudios para dar aquela força. Deixarei, como de costume, todas as referências bibliográficas e links no final da postagem.

 

Violência de Gênero


Vamos começar falando sobre o que é de fato "Violência de Gênero" e, mais especificamente, da violência contra a mulher. Antes de tudo, vamos separar a palavra e estudar sua partes.


O que é Violência?


Sei que é um termo comum e a maioria de nós já deve saber mais ou menos o que significa "Violência". De maneira geral, podemos citar vários exemplos de atitudes violentas; mas a definição exata defendida pela OMS é essa:


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o uso intencional de força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS, 2002).

A definição do que é "violência" já é clara para a maioria de nós; contudo, vale aqui uma ressalva: a violência ultrapassa o conceito do "físico" quando a vítima é uma mulher. Qualquer forma de agressão, seja ela física ou psicológica, objetiva ou subjetiva, em ambiente público ou privado, não deveria ser aceita.


Infelizmente, a cada dia que passa não conseguimos ver redução nas taxas de feminicídio - muito pelo o contrário. Segundo uma matéria escrita por Clara Velasco, Gabriela Caesar e Thiago Reis para o G1, no dia cinco de março do ano passado (11 meses atrás), houve um aumento de "7,3% nos casos de feminicídios – crimes de ódio motivados pela condição de gênero". - ver matéria completa aqui.

No dia que for possível à mulher amar em sua força e não em sua fraqueza, não para fugir de si mesma, mas para se encontrar, não para se renunciar, mas para se afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal. (BEAUVOIR, 1980).

O que é Gênero?


O conceito de gênero pode ser entendido com uma atribuição biológica à espécie (macho e fêmea). Entretanto, no caso da "Violência de Gênero", a palavra aqui está associada a conceitos sociais, históricos, culturais e político - não à sua concepção sexual.


É preciso distinguir bem a diferença entre a concepção sexual associada à palavra "Gênero" de seu real significado quando se trata da violência contra as mulheres. No primeiro caso, separamos as espécies com o intuito de identificar processos biológicos na geração da vida - princípio do "Matriarcado", mas falaremos sobre isso mais adiante.


Já no segundo caso, a palavra representa um hierarquia patriarcal e, consequentemente, uma separação do gênero (agora sim, "Macho" x "Fêmea") ao que se refere à funções sociais, políticas, construída (a separação) historicamente e cultivada culturalmente, de forma que o "Homem" (Pater) seja o dominador - simplesmente por ser do sexo masculino.


Isso pode parecer confuso, mas trouxe alguns trechos para explicar melhor essa diferença.


(...) O conceito de gênero enfatiza, assim, a dimensão cultural que apresenta um papel estruturante no processo de tornar-se homem ou mulher. Observa-se, portanto, que ao se falar em gênero, não se fala exclusivamente de macho ou fêmea, mas de masculino e feminino, em diferentes masculinidades e feminilidades.
Gênero, assim, remete a construções sociais, históricas, culturais e políticas que dizem respeito a disputas materiais, bem como simbólicas que abrangem processos de configuração de identidades, definições de papéis e funções sociais, des/construções de representações e imagens, distintas distribuições de recursos e de poder entre os que são socialmente definidos como homens e mulheres e o que é - e o que não é - considerado de homem ou de mulher, nas diferentes sociedades e ao longo do tempo. (SANTANA, 2015, p.124).
* SANTANA, Anabela Maurício de. Fragmentações e permanências: gênero e diversidade na escola. Retratos da Escola, Brasília, jan. 2015. p.123-136. (Ref)

Portanto, quando fala-se em "Violência de Gênero" , devemos pensar na construção hierárquica social, cultural, histórica e política da nossa sociedade - e não meramente como uma questão biológica. Embora atualmente seja um assunto comum - mesmo não devendo ser - sua abordagem só começa em meados da década de 50, e ainda de maneira muito lenta.


Foi com muita luta, superação, questionamentos e, principalmente, com muita coragem, que a violência contra a mulher começou a ser tratada como uma questão de saúde pública. Mas já chegamos lá...Por enquanto, é importante saber que a violência contra a mulher vem de longa data e que, para que consigamos criar uma sociedade mais inclusiva, precisamos entender, questionar, debater e, principalmente, agir de forma efetiva no combate à violência de gênero.


Ainda, podemos incluir não somente danos físicos - como sociais e psicológicos - aos atos violentos praticados contra a mulher. Mais uma vez, resposta à uma construção hierárquica patriarcal, onde comumente é encontrado o "domínio" masculino nas relações sociais entre os gêneros.


(...) se refere à violência de gênero, particularmente aquela cometida contra a mulher por considerar que essa violência representa a "agudização" de conflitos decorrentes de relações iníquas entre os sexos, nas quais o homem, predominantemente, detém o poder, e a mulher é subjugada às suas vontades e força física.
Esse fenômeno é reconhecido como uma violação aos direitos humanos das mulheres em que a aplicação da força física e/ou constrangimento psicológico que se impõe a alguma delas, contra seus interesses, vontades e desejos, resulta em danos físicos, sociais e mentais pela violação da dignidade humana em sua integridade. Esse tipo de violência é produzido sob a organização hierárquica do domínio masculino nas relações sociais entre os sexos, historicamente delimitadas, culturalmente legitimadas e cultivadas, nas quais a mulher está exposta a agressões objetivas e subjetivas, tanto no espaço público como no privado.

Processo Dinâmico ou Instituído?


O mais comum é relacionarmos a "Violência de Gênero" como um processo dinâmico - visto que estamos falando sobre a construção de uma identidade feminina ilusória fabricada pelo homem (pater). Porém, vai muito além. Assim como algo repetido durante anos a fio, as instituições também foram criadas com base nesses conceitos e, por esse motivo, é mais difícil "quebrar" essa barreira.


Além disso, o conceito de dominação patriarcal é tão enraizado em nossa sociedade que, apesar de existir uma maior taxa em relatos sobre abuso relacionados à violência contra as mulheres entre usuárias dos serviços de saúde, quase nenhum dos relatos é reconhecido nos diagnósticos.



"(...) a alta prevalência da violência entre usuárias dos serviços de saúde é uma realidade comprovada por estudos e pesquisas que apontam uma prevalência de até 50% em serviços de atenção à violência sexual, 25% na atenção básica, 17% no pré-natal e 22% nos serviços de emergência. Contudo, a violência não é reconhecida nos diagnósticos nem registrada nos prontuários.(...)"

Ainda, ao que expressa o entendimento sobre a questão de gênero, devemos perceber nas entranhas de nossa sociedade o que é "comum" e questionarmos constantemente. É preciso analisar todas as instituições sociais, com o intuito de identificar generalizações imersas às mesmas, que não condizem com a sociedade igualitária que almejamos.


Uma compreensão mais ampla de gênero exige que pensemos não somente que os sujeitos se fazem homem e mulher num processo continuado, dinâmico [...]; como também nos leva a pensar que gênero é mais do que uma identidade aprendida, é uma categoria imersa nas instituições sociais (o que implica admitir que a justiça, a escola, a igreja etc. são “genereficadas”, ou seja, expressam as relações sociais de gênero). (LOURO, 1995, p.103).
 

Um pouco de história:


Agora que falamos bastante sobre o que é "Violência de Gênero", podemos discorrer melhor sobre sua construção histórica. Então, quando começou esse debate? Por mais que a "violência" acompanhe o ser humano desde que existimos, os debates sobre o assunto específico relacionado à violência contra as mulheres é recente.


Acontece que, como venho falando, toda nossa sociedade atual foi fomentada nos moldes patriarcais. Quando digo "Sociedade", entendam: nossa língua, costumes, vestimenta, comida, fala, gestos...tudo. Isso porque toda a construção da mesma foi feita com base no conceito do domínio masculino.


Convém ressaltar que toda essa construção ideológica é fictícia e que, naturalmente, não existe o gênero "masculino" e "feminino" ao que se refere à sociedade, cultura, justiça e política. O que existe é uma convenção hierárquica, patriarcal, cultural e social que, ao longo dos anos, passou a ser vista como uma verdade absoluta.


“a identidade social da mulher, assim como a do homem, é construída através da atribuição de distintos papéis, que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo”. (SAFFIOTI, 1987, p. 10). Saffioti (1987, p. 08)
Ao pensar sobre essa compreensão de gênero numa articulação com as relações sociais construídas historicamente, é possível formular a ideia de que os estereótipos e papéis de gênero são produtos de uma situação histórico-cultural e política estruturada em moldes patriarcais, hegemônicos, cristãos e brancos, constatando assim, que não existe naturalmente o gênero masculino ou feminino, mas uma construção cultural de corpos, gêneros e sexualidades. Esses papéis, em geral, privilegiam os homens (...)"
A dominação masculina encontra assim reunidas todas as condições de seu pleno exercício. A primazia universalmente concedida aos homens se afirma na objetividade de estruturas sociais e de atividades produtivas e reprodutivas, baseadas em uma divisão sexual do trabalho e produção e reprodução biológica e social, que confere ao homem a melhor parte, bem como nos esquemas imanentes a todos os habitus. (BOURDIEU, 2014, p. 54).
Compreende-se o conceito de habitus como a relação com as formas de socialização humana, guiadas por meio de dispositivos culturais, repassados de geração para geração, que simulam certa neutralidade e naturalidade das ações cotidianas (BOURDIEU, 1983). “Ora, longe de afirmar que as estruturas de dominação são a-históricas, eu tentarei, pelo contrário, provar que elas são produto de um trabalho incessante (e como tal, histórico) de reprodução [...]”. (BOURDIEU, 2014, p. 56).

Patriarcalismo


Para entender melhor os moldes de nossa sociedade atual, é fundamental conhecer alguns pontos sobre a formação da nossa cultura. Mas antes do "Patriarcado", as mulheres dominavam o topo da sociedade? A resposta é não.


Enquanto a palavra "Matriarcado" significava o "início da vida"; a palavra "Patriarcado" tomou o sentido de "Dominância". Daí surge o primeiro grande problema ideológico - a geração da vida. Para piorar, ao analisar a palavra "Pater", vemos que seu sentido inicial nada tinha a ver com a relação de "Figura paterna que cuida de seus filhos" - inclusive, a palavra "Pater" nem existia na sociedade matriarcal; e quando foi instituída com o patriarcado, seu sentido estava muito mais ligado à uma figura institucional fictícia relacionada à hierarquia, dominação e poder.


Agora que sabemos o que significa o "Patriarcado" e que está relacionado ao "Pater" como símbolo de poder e dominação, podemos entender que o "Patriarcado Brasileiro" não foi muito diferente - mas devemos agregar também o cenário da colonização agrária e escravista ao contexto para termos uma ideia mais aprofundada sobre o assunto.


* A título de informação para quem quiser se aprofundar no assunto, basta acessar os links nas referências ao final da postagem, ou clicando na palavras acima - sobre colonização agrária e escravista.


A soma dessa tradição portuguesa com a colonização agrária e escravista resultou no chamado patriarcalismo brasileiro. Era ele que garantia a união entre parentes, a obediência dos escravos e a influência política de um grupo familiar sobre os demais. Tratava-se de uma grande família reunida em torno de um chefe, pai e senhor, forte e destemido, que impunha sua lei e ordem nos domínios que lhe pertenciam. Sob essa lei, a mulher tinha de se curvar. (DEL PRIORE, 2013, p. 9-10).
A violência era compreendida como uma espécie de “educação”, para disciplinar as mulheres que desrespeitassem os seus homens, sejam eles maridos, pais ou outros. Esse “trabalho de reprodução esteve garantido, até época recente, por três instâncias principais, a família, a igreja e a escola, que, objetivamente orquestradas, tinham em comum o fato de agirem sobre as estruturas inconscientes” (BOURDIEU, 2007, p. 103) e, principalmente, “à família cabe o papel principal na reprodução da dominação e da visão masculina”. (BOURDIEU, 2007, p. 103). Todo esse processo de classificação repercute como um habitus.

Religião e Ciência


Assim como "Bourdieu" menciona no trecho acima, podemos estabelecer três instâncias principais que compreendem a "violência de gênero" como uma espécie de "doutrinação". A primeira seria a família, reconhecendo o "Pater" detentor do poder supremo sobre a vida de seus subordinados.


Esse conceito de dominação patriarcal se estendia para as igrejas e escolas, não podendo mais saber ao certo qual dos três precedeu o outro. Os discursos presentes nas igrejas católicas, acerca da inferioridade feminina, ganham força - paradoxalmente - com o iluminismo e a revolução francesa.


Os pressupostos acerca da inferioridade feminina, presentes no discurso da Igreja Católica, paradoxalmente, são reafirmados pelo iluminismo, legitimando-se a exclusão das mulheres da cidadania política e civil com a Revolução Francesa, apesar do papel relevante que as mulheres desempenharam no movimento. Tais teorias ganham força durante o século XIX, adquirindo o respaldo da ciência, o ídolo do momento. A medicina social assegura constituírem-se como características femininas, por razões biológicas, a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da sexualidade à vocação maternal. (SOIHET, 2002, p. 274).

Foi por volta da década de 50 que começaram a ser discutidos tais assuntos, de maneira ainda bem superficial. Apenas em meados da década de 70 é que começaram a surgir ações contrárias ao patriarcado - ações essas responsáveis pela construção dos alicerces que tecem os direitos femininos hoje.


Mas como o texto está ficando grande, vou ficando por aqui. Fiquem atentos às novas postagens, partiremos daqui e falaremos mais sobre esse movimento que vem impactando de forma positiva nossa sociedade.

 

Conclusão


Vimos até aqui alguns pontos importantes que serão abordados na próxima semana em outra postagem. Assuntos como Violência de Gênero, Patriarcalismo e as relações entre ciência e religião ao que refere-se à violência contra a mulher. A ideia foi passar um "resumo"; uma abordagem mais geral dos conceitos que serão necessários para os temas que virão.


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Agradeço a todos que estão acompanhando minhas postagens e, em breve, trarei o sequência com muito mais conteúdo para vocês. Vale lembrar também que deixarei abaixo os links e referências bibliográficas utilizadas para a construção desse artigo - recomendo ler todos caso queira ter uma visão mais aprofundada do assunto abordado aqui. 🙂

 

Referências


- artigo escrito por Samira de M. Maia VIGANO ; Maria Hermínia L. F. LAFFIN

- artigo escrito por Cláudia MAIA



- escrito por "Feminismo Radical"


_patriarcalismo (infoescola)


_colonização_agrária (artigo em pdf)


## O site abaixo não foi usado como referência para a criação desse texto, mas achei relevante e, à título de informação, deixarei aqui para vocês:


 

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